Aumento de casos de hanseníase nos EUA é motivo de preocupação?

Casos de hanseníase nos Estados Unidos vêm surgindo sem origem de transmissão clara. Especialistas tentam traçar relação entre o contexto das pessoas acometidas e o adoecimento pela enfermidade

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Você sabia que em 2023 foram notificados casos de hanseníase no estado da Flórida, nos Estados Unidos? A situação ganhou destaque na imprensa internacional e alarmou as autoridades estaduais norte-americanas já que, conforme o relatório divulgado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o homem diagnosticado com hanseníase não apresentava os fatores de risco comuns identificados em pacientes com a doença no País: ter viajado a uma região endêmica e manter contato prolongado com indivíduos acometidos e sem tratamento.

Mas então, de que forma o paciente poderia ter contraído a doença?

O homem acometido, então com 54 anos, trabalhava com jardinagem e paisagismo, o que o expunha a longos períodos de contato direto com o solo. Esse foi o ponto de partida para questionarem se a infecção poderia ter sido causada pelo contágio direto com a terra, uma vez que estudos recentes sugerem que a M. leprae (microbactéria responsável pela infecção da hanseníase) pode sobreviver por longos períodos no solo.

Segundo o mesmo relatório que trouxe à tona o caso, a hanseníase nos Estados Unidos afetava principalmente pessoas que migraram de áreas endêmicas da doença para o país. Contudo, de 2015 a 2020, aproximadamente 34% dos novos casos notificados na região foram de pessoas que aparentemente teriam adquirido a doença localmente.

A origem da transmissão do caso explorado no relatório não foi totalmente elucidada. O estudo observa, no entanto, que existem outros relatórios que indicam a ocorrência de casos autóctones, nos quais a doença foi contraída na própria região de residência da pessoa afetada devido à migração de outros indivíduos acometidos e sem tratamento para o território.

O estudo ainda ressalta o resultado dos relatórios dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças que mostram que a incidência de novos diagnósticos da hanseníase em pessoas nascidas nos EUA vem diminuindo desde 2022, mesmo com o aumento de casos nessas regiões historicamente não endêmicas.

Hanseníase: um problema global

Não é incomum a ocorrência de casos de hanseníase em países não endêmicos, como evidenciado no início de 2023 quando Portugal notificou dois casos da doença. Apesar do país registrar em média seis casos de hanseníase por ano, a enfermidade é considerada eliminada na região devido à ausência de transmissão comunitária.


A ocorrência de casos de hanseníase nessas regiões tem profundas implicações no enfrentamento à enfermidade. Tradicionalmente, a hanseníase tem sido estigmatizada como uma doença que afeta apenas países pobres ou em desenvolvimento. No entanto, a notificação de casos em países desenvolvidos desafia essa percepção e destaca a necessidade de uma abordagem mais ampla e atenta no controle da doença.

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Nesse contexto, a médica e consultora técnica da organização holandesa NLR, Liesbeth Mieras, compartilha que casos em regiões não endêmicas precisam de respostas rápidas das autoridades de saúde, uma vez que a detecção precoce e o tratamento imediato são essenciais para evitar a disseminação da doença e interromper sua transmissão.

Essas circunstâncias são oportunidades para informar ao público em geral que a hanseníase ainda existe e que a população não precisa se assustar. O que nós precisamos fazer é identificar e tratar de forma antecipada os casos para garantir que as pessoas acometidas não desenvolvam nenhum tipo de deficiência”, aponta a médica.

 

Saiba mais em "Portugal registra casos de Hanseníase: o que sabemos?".


Para Alexandre Menezes, diretor nacional da Fundação NHR Brasil, a percepção equivocada de que a hanseníase está restrita a países pobres contribui para a falta de conscientização global sobre a doença e para a persistência de estigmas e preconceitos.

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“A nível local, especialmente em regiões onde a hanseníase não é endêmica, essa visão tende a provocar atrasos no diagnóstico e no tratamento, revelando ainda mais complexidade à doença e sofrimento às pessoas acometidas. É por isso que para enfrentar a enfermidade de forma eficaz, é crucial reconhecê-la como um problema global que requer uma abordagem abrangente e colaborativa em nível internacional.”, avalia o diretor.

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