Joseildo

Joseildo foi separado aos 5 anos de idade de sua mãe, internada compulsoriamente na Colônia da Mirueira. Aos 18 anos, começou a apresentar os primeiros sinais de uma alteração do estado de saúde (manchas nos braços, dormência nas mãos, dores no braço e cotovelo (direito e esquerdo), dormência e inchaço nas duas pernas). A partir desses indícios, procurou médicos, mas não obteve o diagnóstico fechado: alguns alegavam uma possível alergia ao cimento, em decorrência do seu trabalho em construção civil. Joseildo fez uso de antialérgicos que aliviavam os sintomas, mas as dormências continuavam.

Mudou de emprego, foi trabalhar em uma usina de açúcar, onde teve uma queimadura de 3º grau: uma válvula de um reservatório contendo água sob pressão e temperaturas elevadas estava mal instalada e jorrou água quente na sua perna esquerda. Joseildo não sentiu nada, quando percebeu a calça molhada tentou puxá-la em direção ao joelho e percebeu que ela estava presa à sua perna queimada. Procurou o médico da empresa, que solicitou um encaminhamento para ele ir a um hospital. Ao chegar lá, os médicos ficaram em dúvida sobre o que estaria ocasionando a dormência e, mais uma vez, não concluíram o diagnóstico. O médico receitou óleo mineral para tratar as queimaduras e para a dormência da mão exercício com bola de borracha. Joseildo seguiu todas as instruções recomendadas, que não traziam melhoras para o seu caso. Diante disso, aos 22 anos resolveu por conta própria procurar a unidade de saúde mais próxima da sua residência. Lá o médico suspeitou de hanseníase e solicitou a baciloscopia, que deu positiva.

Após esse resultado, iniciou o tratamento com duração de cinco anos. Teve cura, porém já apresentava sequelas da doença, suas mãos e pés estavam em garras. Com o passar dos anos, conta que passou por problemas emocionais que desencadearam uma reação hansênica muito forte e em consequência disso, foi internado por seis meses no hospital da Mirueira. Deu prosseguimento ao tratamento e recebeu alta para continuar a medicação em casa. Após dois meses, teve outra reação sucedendo mais sete meses internado. Persistiu no tratamento e recebeu alta para dar continuidade em casa. Porém, dois meses depois, teve outra reação e ficou internado durante oito meses, fez o tratamento completo e recebeu alta. Não teve mais reação. Em um desses internamentos, Joseildo teve conhecimento que sua mãe ainda morava no hospital e foi ao seu encontro.

Relata que o futubol foi a sua primeira paixão, aos 10 anos ganhou a primeira bola, um único divertimento que o tornava extremamente entusiasmado. Já mais maduro, entrou para o time (Time da Garagem) da usina que trabalhava, jogava como meia esquerda e participava de muitos torneios de futebol. Contudo, quando foi atingido pela hanseníase interrompeu os jogos por não resistir ao esgotamento físico. Anos após o tratamento da doença e das reações, o mesmo, voltou a jogar no campo do Hospital da Mirueira, localizado no mesmo bairro onde mora. Hoje em dia, joga todas as sextas-feiras com os egressos do hospital e a vizinhança.