O que o novo Boletim Epidemiológico da
Hanseníase nos revela sobre a doença no Brasil?

Divulgado no dia 24 de janeiro durante o seminário “Hanseníase no Brasil: da evidência à prática”,
o documento segue apontando queda significativa no número de casos notificados.

Boletim Epidemiológico 2023

O Boletim Epidemiológico da Hanseníase 2023, publicado pela Secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde em janeiro deste ano, aponta que em 2022 foram diagnosticados 14.962 novos casos da doença no Brasil. Diferente de anos anteriores, quando o país chegava a registrar mais de 30 mil novos casos, os novos dados não significam necessariamente uma boa notícia sobre o combate da hanseníase. Ao que tudo indica, o país segue enfrentando um contexto de subnotificação da doença, que vem ocorrendo desde o começo da pandemia de Covid-19.

Segundo dados do próprio Ministério, entre os anos de 2020 e 2021 foi identificada a maior redução da taxa de detecção geral de Hanseníase: uma diferença de cerca de 35%.

No projeto de Estratégia Nacional de Enfrentamento da Hanseníase 2023-2030, a pasta apresenta a perspectiva de alcançar um País sem novos casos da doença. Para Alexandre Menezes, diretor nacional da NHR Brasil, o objetivo determinado é um grande desafio. A realização desta meta “depende efetivamente de investimento forte na capacitação de profissionais de saúde de atenção primária”, diz ele.


A subnotificação dos casos de hanseníase incorpora ainda “mais complexidade” para o enfrentamento da doença no Brasil e no mundo, ressalta Alexandre. O epidemiologista defende que para que haja a eliminação de novos casos, é importante a reflexão acerca da inclusão de novas ferramentas para o controle da doença, como a administração da quimioprofilaxia aprimorada de contatos PEP++ (Profilaxia Pós-Exposição).

“O procedimento citado consiste na administração de medicamentos seguros utilizados para evitar a infecção de pessoas que tiveram contato com o paciente acometido ou de impedir que o indivíduo já infectado desenvolva a doença”, explica.

Atenção Plena

Além disso, Alexandre reforça que é necessário que o Plano Nacional de Combate à Hanseníase reconheça as demandas apresentadas em fóruns, coletivos e comunidades de pessoas afetadas por doenças negligenciadas, como a hanseníase.

Marize Ventin, gestora de projetos da NHR Brasil, apoia a fala de Alexandre, salientando que a difusão de informações sobre a hanseníase em todos os espaços (nas mídias, nas escolas e na formação profissional) possibilita o enfrentamento ao estigma de forma eficiente.

Infográfico de Dados Azul escuro BrancoA enfermeira cita os Grupos de Autocuidado como uma das estratégias potentes para a superação do preconceito, “pois são um espaços de acolhimento, de vínculo, de cuidado, de formação de lideranças e oportunidades que fortalecem a política de hanseníase do Estado e do município”, aponta ela.

Dados sobre a incidência da doença revelam que muitas vezes seu diagnóstico está relacionado a outras vulnerabilidades sociais e econômicas, aspecto que contribui para a construção do estigma acerca da hanseníase. “Esse contexto nos mostra a importância de avançarmos no investimento em integração do SUS com outras políticas, sobretudo com a política de assistência social”, ratifica Marize.

Outras Estratégias

No evento, houve destaque para o anúncio de 150 mil testes rápidos a serem disponibilizados pelo Ministério da Saúde para o enfrentamento à hanseníase em todo o país. Na ocasião,a ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou que os testes “são fruto de pesquisas realizadas por instituições brasileiras”, desenvolvidos pela Universidade Federal de Goiás e o PCR pela Fiocruz e Institutos de Biologia Molecular do Paraná.

Nágila Lima, coordenadora de campo do Programa PEP++ em Fortaleza, considera os testes rápidos um grande avanço no controle da hanseníase, já que o Brasil é o segundo país no mundo que possui o maior número de pessoas diagnosticadas com a doença.

Entretanto, ela lembra que o teste rápido não deve ser visto como ferramenta única para o diagnóstico, mas sim como apoio na avaliação de contatos de pessoas acometidas, identificando quem possui risco de desenvolver formas graves de hanseníase.

“Assim, o teste rápido contribuirá para o controle e vigilância da doença e no direcionamento de ações de saúde nos territórios”, enfatiza Nágila.