colagem forumdia2


Superar um passado de negligências, resistir em um presente de adversidades, construir um futuro de inclusão e acesso aos direitos sociais. Estas foram aspirações presentes na sexta edição do Fórum Social Brasileiro para Enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas, realizado de forma virtual nos dias 24 e 25 de outubro de 2021.

Transmitidas pelo Youtube do MedTrop Play 2021, as atividades contaram com a participação de organizações, movimentos sociais, lideranças e pesquisadores que lidam com os temas das Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), como hanseníase, doença de Chagas, hepatites virais, esquistossomose, leishmaniose, filariose e tuberculose.

Os dois dias de evento contabilizaram 2.250 visualizações na plataforma. O Fórum recebeu inscrições de participantes do Brasil, Guiné-Bissau, Portugal e Paraguai, alcançando uma rede diversa de representações.

O primeiro dia do encontro foi iniciado com a memória aos mais de 605 mil brasileiros vítimas da Covid-19. Dentre eles, foram citadas três pessoas importantes para a história do Fórum: Rejane Almeida, assessora técnica da NHR Brasil, Moacir Zini, fundador da Associação Brasileira de Portadores de Leishmaniose (ABRAP-Leish), e Manuel Matias, que conduzia o Grupo de Amigos e Portadores de Hanseníase (GAPH).

A programação do domingo trouxe discussões sobre inovação na ciência e enfrentamento das DTNs e o contexto mundial na produção de medicamentos.

 

 


Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cristina Soares Guimarães defendeu o incentivo às pesquisas como uma ferramenta potente. “O caminho não é fácil, nós não vamos mudar o mundo de hoje para amanhã. Mas nós temos uma micropolítica onde agir, que é no território, pra tentar alavancar todo esse desafio”, partilhou.



“Não adianta trabalhar o tema da doença negligenciada se a gente não enxergar o todo. Temos que ter uma visão plural para que se crie uma proposta de política nacional,” defendeu Luiz Antônio Marinho, secretário-executivo da Associação de Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (Alfob). Ele abordou a necessidade de fortalecer a produção brasileira de medicamentos que possam alcançar as DTNs.

Ainda durante o domingo, a discussão focou na importância de políticas públicas para superar o contexto das desigualdades sociais. “A pandemia trouxe esse olhar para a desigualdade de acesso que existe e nos alertou para a necessidade de um sistema público forte”, pontuou Carmem Leitão, doutora em Ciência Política.

Ela destacou o Fórum como uma rede fundamental para avançar na perspectiva de democracia participativa e democracia de alta intensidade, lembrando que as políticas públicas não devem partir apenas do governo.

O segundo dia de encontro trouxe as falas das lideranças que atuam no enfrentamento das DTNs. Josefa de Oliveira Silva, presidente da Associação Rio Chagas, trouxe as dificuldades enfrentadas pelas pessoas acometidas e reforçou a importância da mobilização e da visibilidade para a doença de Chagas.

 

 

Patrícia Soares, representando o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) e o Grupo de Apoio às Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Gamah), fez uma reflexão sobre as camadas de desigualdades e as mobilizações para auxiliar pessoas acometidas durante a pandemia. “As lideranças e pessoas acometidas não estão pedindo nada mais que direito. Direito à saúde, à educação, à moradia e tantos outros direitos”, alertou.

Representando pessoas acometidas pela filariose, Dircilene Mendonça comentou sobre desafios no período de atendimento durante a pandemia e relatou a experiência do acompanhamento remoto com uma equipe multidisciplinar, conseguindo atenuar aspectos como ansiedade e agravamento das condições físicas.

Outro relato foi o de Fábio Correia, apresentando as ações do Comitê Pernambucano de Mobilização Social para o Controle da Tuberculose, que atua junto a setores públicos e privados e busca atuar em espaços importantes, como escolas, igrejas e sindicatos. Neide Barros, presidente do Movimento Brasileiro de Luta Contra as Hepatites Virais, falou sobre desafios, como falta de campanhas de informação, subnotificação e insuficiência no atendimento multidisciplinar.

Carta do Fórum 2021

Durante toda a programação, os participantes puderam contribuir com as reivindicações a serem contempladas na Carta do Fórum 2021. O documento reúne as pautas e demandas do Fórum e deve ser enviada a autoridades governamentais, gestores, movimentos sociais, organizações, meios de comunicação e sociedade em geral.

Este produto do Fórum também esteve presente nas edições anteriores, sintetizando os anseios e as indicações dos grupos representados nas discussões.

João Victor Pacheco e Maurineia Roseno, representando as pessoas acometidas pela hanseníase, fizeram a leitura da primeira versão da Carta na tarde da segunda-feira. Antes de ser finalizado, o documento está em fase de consulta pública e recebe sugestões até a noite da quarta-feira, 27 de outubro por meio do link https://forms.gle/oDsmCRDNhPQgy9BV9

A Carta será lida durante a cerimônia de encerramento no MedTrop Play 2021, programada para o dia 28 de outubro, às 18 horas.