Como a nutrição auxilia no tratamento da hanseníase?

Vulnerabilidade social e econômica de pessoas acometidas pela
doença é a principal barreira para garantir uma dieta adequada.

DiaNutrição

Lembrado no dia 31 de março, o Dia Nacional da Saúde e da Nutrição é uma data importante para o incentivo de campanhas informativas e educacionais que conscientizem a população sobre a necessidade de uma alimentação saudável na preservação da saúde como um todo.

A Organização Mundial da Saúde apresenta na “Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde” diversas recomendações para que os governos possam formular e alterar diretrizes voltadas para alimentação e saúde. 

No âmbito do combate à hanseníase, no entanto, não há no Brasil um protocolo voltado à promoção da saúde nutricional de pessoas acometidas pela doença. É o que afirma Camila Silveira, nutricionista e doutora em saúde pública com área de concentração em Epidemiologia. Ela ressalta que estratégias de desenvolvimento de rotinas nutricionais saudáveis para pessoas em tratamento da hanseníase deveriam ser consideradas desde o diagnóstico. 

“Para além das orientações que envolvem o seu tratamento, o paciente deveria também receber orientações nutricionais sobre como, de alguma forma, dentro das suas circunstâncias, conseguir garantir um bom estado nutricional”, salienta ela. 

Isso se deve ao fato de que o aspecto de vulnerabilidade social e econômica se apresenta como um determinante dos casos de hanseníase no País. Para que haja uma política coerente com a realidade social de cada pessoa acometida pela hanseníase, é importante levar em consideração que o indivíduo pode correr maior risco de desenvolver a hanseníase quando inserido em contextos desfavoráveis referentes à saúde nutricional. 

No Brasil, por exemplo, pelo menos 60 milhões de pessoas sofrem com insegurança alimentar, enquanto 15,4 milhões lidam com insegurança alimentar grave nos últimos anos, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Camila cita o caso específico de pessoas que se encontram em um ciclo geracional de pobreza, no qual é impedida ou impossibilitada de separar parte de sua renda para sua alimentação de forma integral, o que a leva a estar exposta a maior vulnerabilidade nutricional. 

"Como consequência disso, esse indivíduo vai ser afetado cotidianamente por iniquidades que colaboram ainda mais para o seu quadro de vulnerabilidade, que podem impactar em sua saúde física e emocional”, reforça Camila. 

Outro contexto está relacionado àquela pessoa vulnerável nutricionalmente, quando a carência de nutrientes importantes para a formação do sistema imunológico faz com que o indivíduo não consiga manter suas defesas naturais contra o bacilo de hansen em caso de infecção.

“Além disso, nos casos de contatos próximos domiciliares, se a pessoa acometida estiver em situação de extrema vulnerabilidade socioeconômica e sua família viver em um contexto de insegurança alimentar, leve, moderada ou grave, esse grupo vai estar exposto por ambos os aspectos a um maior risco de infecção” explica a nutricionista. 

Adesão ao tratamento

A manutenção da saúde da pessoa acometida pela hanseníase por meio da alimentação colabora na adesão ao tratamento, salienta Nágila Ferreira, nutricionista e supervisora de campo do Programa PEP ++ em Fortaleza. Ela explica que o uso dos antibióticos utilizados para o tratamento da doença podem produzir alterações gastrointestinais, causando náuseas e vômitos, e essas reações podem ser minimizadas com estratégias nutricionais.  

Nágila aponta que essas considerações são observadas pelos profissionais que atuam diretamente com pessoas em tratamento da hanseníase, mas que não há estudos que investiguem as repercussões nutricionais do uso constante da medicação utilizada. Contudo, é necessário que haja incentivos para o desenvolvimento de pesquisas sobre essa relação para identificar possíveis soluções que aumentem a permanência do paciente no tratamento. 

“Um nutricionista pode desempenhar um papel crucial na Estratégia de Controle e Vigilância da Hanseníase, pois uma dieta adequada pode melhorar a absorção de medicamentos, reduzir eventos adversos causados pela poliquimioterapia, bem como afetar diretamente a imunidade das pessoas afetadas pela doença e seus contatos”, defende a nutricionista.

“Ademais, a garantia de proteção social por meio de auxílio governamental é fundamental para a permanência da pessoa acometida no processo de tratamento e no desenvolvimento de uma dieta saudável que auxilie seu processo de recuperação”.