PEP++: entenda o papel da profilaxia
aprimorada no enfrentamento à hanseníase

Estudo multicêntrico busca aprimorar estratégia de prevenção indicada pela OMS
para contatos próximos de pessoas diagnosticadas com a doença

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Você sabia que contatos de pessoas acometidas pela hanseníase possuem 8 vezes mais chances de desenvolver a doença?

É por isso que, desde 2020, a NLR - Until No Leprosy Remains promove o Programa PEP++, pesquisa multicêntrica que acontece no Brasil, Índia, Indonésia, Bangladesh e Nepal e busca aprimorar o esquema de Profilaxia Pós-Exposição ao Mycobacterium leprae. A estratégia é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nas diretrizes para o diagnóstico, tratamento e prevenção da hanseníase, uma vez que demonstra uma eficácia de 57% na redução de risco de adoecimento dos contatos de pessoas acometidas pela doença. 

A pesquisa visa avaliar a combinação de dois antibióticos (Claritromicina e Rifampicina) para a prevenção da hanseníase, administrada em doses intervaladas no período de 2 meses. Desta forma, é esperado aumentar a eficácia da quimioprofilaxia em até 90%. 

O estudo é um ensaio clínico pragmático, acompanhado desde o início pelo Comitê de Ética em Pesquisa, vinculado à unidade de práticas clínicas da Universidade Federal do Ceará, e conta com uma equipe de pesquisadores com experiências em epidemiologia, saúde coletiva, pesquisas clínicas e outras áreas. As ações acontecem na realidade dos serviços de atenção primária e buscam fortalecer também as capacidades locais para o enfrentamento da doença. 

Quem participa?

A prevenção oferecida pelo Programa PEP++ é recomendada para indivíduos que residem no mesmo domicílio ou que passam mais de 20 horas por semana em contato próximo com uma pessoa que foi diagnosticada com hanseníase no período anterior ao início do tratamento.

“Uma vez que o tratamento é iniciado, a pessoa acometida deixa de transmitir a doença, mas os contatos próximos precisam passar por avaliações dermatoneurológicas anuais a fim de identificar qualquer possível sinal ou sintoma da doença”, explica Aymée Medeiros, membro da NHR Brasil e gestora do Programa PEP++ no país. 

PEPPesquisa2De acordo com a gestora, na ausência de sinais ou sintomas da doença, tais como manchas na pele com alteração de sensibilidade, dormência e fraqueza nas mãos e nos pés; os contatos são convidados a receber a quimioprofilaxia aprimorada e serão acompanhados pelo Programa. 

“Já os contatos que apresentam qualquer sinal e sintoma da hanseníase são encaminhados às suas respectivas unidades de saúde para que seja feito o exames clínico junto à médica hansenóloga matriciadora do Programa e os profissionais da Atenção Primária à Saúde, de forma a assegurar o diagnóstico precoce e garantir o tratamento adequado”, ressalta Aymée.

Nas cidades de Fortaleza e Sobral (CE), onde o PEP++ acontece no Brasil, já foram abordados mais de 3 mil contatos próximos de pessoas diagnosticadas. Destes, 2 mil receberam a quimioprofilaxia e 21 casos foram diagnosticados até o momento. 

“A equipe do Programa PEP++ acompanha a pessoa desde a triagem para diagnóstico da hanseníase até o desfecho de sua avaliação junto à equipe de saúde. Caso seja diagnosticada, a pessoa já toma a primeira dose supervisionada e recebe sua cartela de medicações para o mês. Além disso, ela recebe todo o suporte da equipe para esclarecimentos de dúvidas, bem como acolhimento em suas demandas”, salienta Aymée.

Capacitações

Além do ensaio clínico, o Programa PEP ++ também aposta na formação de profissionais de saúde para garantir que as equipes das Unidades Básicas (UBS) estejam cada vez mais preparadas para identificar novos casos da hanseníase e encaminhá-los para o tratamento. 

A dermatologista e hansenóloga Juliana Ramos, médica matriciadora do PEP ++, destaca que a Atenção Primária a Saúde é a principal porta de entrada do usuário ao Sistema Único de Saúde (SUS). Desta forma, “o treinamento dos profissionais das unidades básicas, incluindo agentes comunitários, técnicos e enfermeiros, tem sido fundamental para o manejo da hanseníase em nosso país”, diz ela. 

Outra linha de atuação do Programa promove ações educativas nas comunidades com alta endemicidade para a hanseníase, divulgando informações que auxiliam na identificação de novos casos e buscam reduzir os preconceitos relacionados à doença. 

“Nessas ações, buscamos estimular a responsabilidade social dessas comunidades, reforçando que hanseníase tem tratamento e cura. Assim, o programa auxilia na quebra do estigma dessa importante doença de origem milenar, mas que ainda representa um grande desafio para a saúde pública”, conclui Juliana.