Quais são as demandas de lideranças femininas contra a hanseníase?

Neste 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, a NHR Brasil traz falas
de lideranças femininas que lutam para combater a hanseníase no País

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Neste 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, a NHR Brasil traz falas de lideranças femininas que lutam para combater a hanseníase no País. Francilene Mesquita e Maurineia Vasconcelos pontuam quais são as demandas necessárias em seus campos de atuação para que possam avançar nesse movimento. 

Francilene

FrancileneFrancilene é uma mulher curada da hanseníase que hoje atua no combate à doença coordenando o Movimento de Reintegração dos Acometidos pela Hanseníase (Morhan) no estado do Piauí. 

Como prioridade nas demandas em seu movimento, Francilene enxerga a necessidade de implementação de atendimento psicológico no tratamento para mulheres acometidas pela hanseníase. 

“A gente já nasce com o próprio desafio de ser mulher em toda a sua integralidade, mas a partir do momento em que nós somos diagnosticadas, independente da patologia, sentimos um impacto muito maior. E esse impacto não é apenas social, mas também mental”, explica ela.

Francilene Mesquita salienta que em alguns casos quando mulheres são diagnosticadas com hanseníase, há o sentimento de culpa. “Nós já nascemos com essa ideia de que ser mulher é ter a responsabilidade de cuidar do outro. Já crescemos com essa concepção de que temos que ficar atentas a qualquer sinal de adoecimento em nossas famílias”, diz ela. 

Nesse sentido, a mulher diagnosticada pode se sentir incapaz de lidar com as responsabilidades socialmente atribuídas a ela e isso pesa, destaca Francilene. 

Além disso, a coordenadora do Morhan Piauí reforça que profissionais envolvidos no tratamento de mulheres acometidas pela hanseníase precisam ser capacitados para identificarem quando elas necessitam de encaminhamento para o tratamento psicológico, já que as mesmas podem não se sentir confortáveis e seguras para solicitar o atendimento. 

“É preciso haver  maior difusão nos espaços de coletivos de mulheres acometida sobre informações que abordam os vários tipos de violências, como identificar e combater”, acrescenta.

Maurineia

MaurineiaMaurineia Roseno também foi uma mulher acometida pela hanseníase. Hoje, ela atua nas atividades do Morhan em Recife, trabalhando pelo acesso pleno das pessoas em vulnerabilidade social e econômica ao tratamento da doença. 

Maurineia luta pelos demais indivíduos acometidos pela hanseníase que possuem alguma deficiência em decorrência da doença para que consigam curativos específicos para feridas vasculares, próteses e sapatos adaptados de qualidade distribuídos pelo estado. 

Em sua rotina, Maurineia cobra constantemente o estado do Recife para que dêem andamento nas questões de urgência que citou. 

“Para mim, como sou negra, da região Nordeste, da periferia, as coisas são muito mais difíceis. E para representar as mulheres acometidas por hanseníase temos que lutar, não desistir e persistir”, reforça Maurineia. 

Por isso, ela afirma que a cobrança dos órgãos responsáveis pelos dispositivos necessários é importante tanto para ela, como recém amputada devido às consequências da doença, como para os demais indivíduos afetados pela hanseníase. 

Representatividade

Marize Ventin, coordenadora de projetos da NHR Brasil, fala que a presença de mulheres em espaços de liderança na luta contra os desafios encontrados por pessoas atingidas pela hanseníase, como Maurineia e Francilene, constrói representatividade e exemplos para outras pessoas que se encontram em situações que as mesmas já presenciaram.  

“Maurineia é integrante dos grupos de autocuidado, projeto desenvolvido pela NHR Brasil em Pernambuco desde 2015, e em suas participações foi identificado que ela possuía um perfil de liderança nato”, diz Marize. 

Desde então, Maurineia vem sendo uma figura de força e estímulo para outras mulheres acometidas pela hanseníase, sobretudo aquelas que são recém diagnosticadas com a doença e que se encontram vulneráveis a situações estigmatizantes. 

“Pois quando essas mulheres enxergam Maurineia e outras lideranças nesse contexto, percebem outros horizontes para além da hanseníase, para um caminho empoderador e capacitante”, conclui Marize.