dia mundial chagas wilson oliveira

Data marca mobilização para o enfrentamento da doença no mundo

 

O Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado nesta dia 14 de abril, traz a oportunidade de discutir e trazer visibilidade para uma doença desafiadora. Sem dados sistematizados sobre a prevalência, a estimativa é que o Brasil tenha entre 1,9 e 4,6 milhões de pessoas infectadas pelo Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença.

Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 84% dos casos brasileiros estiveram concentrados na região Norte entre 2010 e 2019. A pasta também relata que a doença de Chagas representa uma das quatro maiores causas de mortes por doenças infecciosas e parasitárias no País.

Dentre as articulações do Dia Mundial, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realiza evento virtual com transmissão pelo Youtube a partir das 9 horas do dia 14 de abril. A programação inclui homenagens a pesquisadores, debates sobre conquistas e desafios atuais, além de lançamentos de novas estratégias para o enfrentamento da doença.

Uma das iniciativas com lançamento oficial no evento é o projeto CUIDA Chagas, resultado da parceria entre Fiocruz, Unitaid e Ministério da Saúde. O objetivo é eliminar a transmissão congênita (da mãe para o bebê) em países endêmicos, com intervenções em 10 municípios da Bolívia, seis do Brasil, 13 da Colômbia e cinco do Paraguai. O projeto promoverá o tratamento etiológico de mulheres em idade fértil antes da gravidez.

O projeto trará ainda uma abordagem abrangente, combinando pesquisa de implementação e protocolos de inovação. A NHR Brasil é uma das apoiadoras do projeto, promovendo apoio técnico e consultoria sobre as estratégias de autocuidado já trabalhadas pela instituição para o contexto da hanseníase.

Visibilidade

Neste Dia Mundial da Doença de Chagas, é importante a união de diversas instituições, movimentos, universidades e pessoas acometidas pela doença para a conscientização sobre o tema. A data foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em maio de 2019.

A conquista foi celebrada por pessoas e instituições envolvidas neste enfrentamento. Para o cardiologista Wilson Oliveira, coordenador do Serviço de Referência em Doença de Chagas e Insuficiência Cardíaca do Pronto Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco Prof. Luiz Tavares (Procape/UPE), ter um dia voltado para uma doença negligenciada é uma chance de falar mais sobre ela, não apenas para a comunidade médica, mas para a sociedade em geral.

No Brasil, ainda são muitos os desafios para enfrentar a doença. Confira informações importantes e algumas destas reflexões na entrevista com Wilson Oliveira.


Qual é a situação da doença de Chagas no Brasil? E quais são os principais desafios para o controle no país?

Wilson - A doença de Chagas, mesmo após 112 anos de sua descoberta, continua sendo um grave problema de saúde pública para a América Latina e, com a globalização, para o mundo. O principal problema no Brasil ainda é um número grande de pacientes crônicos para doença de Chagas sem o diagnóstico, tratamento e acompanhamento de forma integral nos três níveis de complexidade determinados pelo SUS.

A transmissão vetorial ainda é um grande problema no Brasil? Há outra forma de transmissão que tenha relevância epidemiológica?

Wilson - Sim. A transmissão vetorial ainda é um grande problema na cadeia de transmissão da doença de Chagas. Uma outra forma de transmissão que tem sido crescente na última década é a transmissão oral, por ingestão de alimentos contaminados pelo próprio vetor triturado junto ao alimento, ou pelas fezes desses insetos, como agente de contaminação.

A doença de Chagas tem cura? De uma forma geral, como deve ser conduzido o tratamento para as pessoas com a doença em suas diferentes formas?

Wilson - A doença de Chagas em sua forma aguda sim tem cura, desde que diagnosticada e tratada com medicação antiparasitária adequada e em tempo correto. Uma vez tornando-se crônica, ela terá controle e vai depender muito do grau de comprometimento visceral, especialmente do coração e do trato digestivo.

Que pessoas ou grupos sociais estão mais vulneráveis à doença? E que medidas de prevenção seriam necessárias para reduzir o risco para essas pessoas?

Wilson - Infelizmente, o perfil socioeconômico das pessoas afetadas pela doença de Chagas não mudou muito desde a sua descoberta. Atinge, sobretudo, populações negligenciadas. Não à toa, a doença de Chagas é classificada pela OMS como uma doença extremamente negligenciada. Espera-se que, com o reconhecimento do 14 de abril como Dia Mundial da Doença de Chagas pela OMS, isso aumente a sua visibilidade, e a pessoa afetada passe a ser vista com maior humanidade, dignidade e cidadania.

No Brasil, ainda há dificuldades para o acesso ao diagnóstico? E para o acesso à atenção integral após o diagnóstico?

Wilson - No Brasil, o maior problema é o desconhecimento geral sobre a doença. Os laboratórios públicos de análises clínicas, a exemplo do LACEN, estão habilitados a realizar os testes diagnósticos, mas necessitam que os mesmos sejam solicitados, especialmente a pacientes de áreas endêmicas como a nossa. Chamo aqui a atenção que a doença de Chagas pode ser transmitida da mãe para o seu bebê ainda dentro do útero e que seria mandatório que esse teste fosse realizado no pré-natal ou no teste do pezinho. Outro aspecto é que 60% dos pacientes com doença de Chagas podem ser acompanhados pelas Unidades Básicas de Saúde, uma vez que não desenvolverão doença grave, por toda a vida.

O acesso ao diagnóstico e ao tratamento é possível em todas as regiões do País onde a doença é endêmica?

Wilson - Sim, em todas as regiões do Brasil é possível realizar teste para a identificação do Trypanosoma cruzi, parasita responsável pela doença de Chagas. Todos os países da América Latina são considerados endêmicos para a doença de Chagas.

Como o contexto da pandemia de Covid-19 tem agravado as dificuldades para enfrentar a doença de Chagas no País?

Wilson - Como comentado anteriormente, pacientes com doença de Chagas fazem parte de um segmento da população com baixo poder socioeconômico e com pequeno poder de voz e de reivindicação. Portanto, considerando que tanto o T. cruzi como o vírus da Covid-19 apresentam tropismo pelo músculo cardíaco, a sobreposição dos dois agravos potencializa o nível de agressão cardiovascular.

 

Para mais informações sobre a Doença de Chagas, acesse:

Doença de Chagas – Saúde de A a Z - Ministério da Saúde

Instagram da Casa de Chagas – Setor do Procape/PE composto por Ambulatório e Associação: @casadechagas