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O município de Floriano sediará, em dezembro, o primeiro seminário para discutir estratégias de superação do estigma em territórios de alta endemicidade

As diversas dificuldades no convívio social enfrentadas pelas pessoas afetadas pela hanseníase são o foco do projeto iniciado pela NHR Brasil na cidade de Floriano, no Piauí. A iniciativa para enfrentamento do estigma articulou a adesão de gestores municipais, agentes de saúde e universidades, em visita técnica realizada entre os dias 21 e 23 de outubro. Em dezembro, o município sedia o I Seminário Sobre o Estigma no Piauí.

A rejeição e a exclusão social são realidades vivenciadas por algumas pessoas que convivem com a hanseníase no Brasil, sendo uma doença considerada pelo senso comum como um mal mutilante e incurável e tendo um passado de políticas públicas de segregação das pessoas acometidas. O projeto Territórios Estigmatizados pela Hanseníase: Construção e Persistência em Áreas do Município de Floriano, Piauí se propõe a desenhar estratégias para reduzir o estigma, tendo uma visão mais clara do contexto social, histórico e cultural deste problema nos locais alcançados.

Em Floriano, os territórios “marcados” pela hanseníase se apresentam por exemplos de exclusão social no passado, como o fechamento da escola Ulisse Marques e a construção de um cemitério exclusivo para pessoas com hanseníase. Os locais de abordagem do projeto compreendem a área das unidades básicas de saúde Dirceu Arcoverde e Paulo Kalume, a escola municipal Odorico Castelo e o Centro Estadual de Educação Profissional Calixto Lobo.

Além da aplicação de escalas para mensurar o estigma nas comunidades e da formação de grupos focais, os públicos alcançados participarão do I Seminário Sobre o Estigma no Piauí. O evento será realizado nos dias 3 e 4 de dezembro, no auditório da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Além da discussão dos diversos fatores do estigma, o seminário estabelecerá estratégias de superação a partir da discussão com profissionais e gestores da saúde e educação, movimento social, comunidade, pesquisadores e estudantes.

Estigma

Diversos fatores se associam ao estigma relacionado à hanseníase. Um deles é a desinformação sobre as formas de transmissão e de tratamento da doença nos dias atuais. O medo do contágio motiva as atitudes discriminatórias contra as pessoas afetadas pela hanseníase. No entanto, a hanseníase tem cura, e a transmissão é interrompida a partir do momento em que o tratamento se inicia com a combinação de medicamentos oferecida pelo SUS - a poliquimioterapia (PQT). O passado de isolamento dos pacientes no Brasil em hospitais e colônias, política praticada até a década de 1980 no Brasil, também contribui para a crença de que as pessoas convivendo com a doença devem ser afastadas do convívio social.

Além do isolamento em ambientes familiares e nas comunidades, as pessoas afetadas pela hanseníase também vivenciam estigma nos ambientes de trabalho. Em Fortaleza, uma indenização de R$ 8 mil por danos morais foi concedida pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) a uma costureira que se sentiu discriminada na indústria de lingerie onde trabalhava.